quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Despertares

Acordo, e ligo automáticamente a televisão. Nela está a Maya, no Sic 10 Horas, a dizer que os signos não sei quê. Termina toda contente. "Ah, Fátima, não sabes tu o que é que eu te tenho para contar na Tertúlia Côr-de-Rosa!" Diz a Fátima que "não! ora diz lá!" Responde a Maya: "Ah pois! A Ruth Marlene, que o nosso público tanto adora, têm um novo namorado! O único senão... é que é dono de uma casa de Strip! Ah ah ah".
Riem-se. Dizem que há namorados melhores. Com certezas, que estas mulheres sabem. A facilidade com que se agarra numa revista e se fala, com ar diplomático, das vidas de toda a gente, repugna-me. Há pessoas cuja "profissão" é mandar postas de pescada sobre tudo o que aparece nas revistas. Eu chamo-lhe "desemprego".
Hoje em dia, vende-se o dizer mal por dizer. Dá audiências. O público gosta.
Enxovalhar alguém, em praça pública, sempre vendeu, sempre venderá. Mas quando se torna banal e forçado (sim, porque tem de haver forçosamente sobre o que falar), é só uma máquina para arquitectar audíências. E quando assim é, caro leitor, é só falta de bom gosto.
Irrita-nos a todos: sair do prédio e ter vizinhas (daquelas vestidas de preto, reformadas), a falarem umas com as outras sobre os barulhos que ouviram em nossa casa na noite passada, e a até que horas as visitas ficaram lá em casa, e se tinham piercings, se não tinham, e o raio que as parta ao meio. Isso, irrita-nos muito. Mas se essas velhas, estiverem num programa da manhã, e despedaçarem a vida do próximo... isso, já nos aconchega mais a alma. Já dá vontade de ir buscar umas bolachinhas de canela e ver alguém ser abalroado na tv.
Enfim, há programas, que mais valia Nosso Senhor levar.