A minha mãe antigamente fazia isso.
Escolhia na noite anterior a roupa que iria vestir na manhã seguinte.
E eu, com os olhos de dez anos, achava tudo aquilo um mundo novo.
Armários abertos a serem esventrados à força de um conjunto certo.
Por fim, as roupas desfalecidas em cima da cadeira, à espera que o corpo lhes desse volume.
Algum que fosse.
Tudo pautado pelo cheiro dos sabonetes que dormiam nos cantos das gavetas.
E de manhã, quando a minha mãe me ia deixar à escola, tudo aquilo funcionava.
A roupa era a certa para aquela temperatura, tudo ficava bem, e o dia para ela já estava meio-vencido.
Nos tempos que andam nada feito.
Avançar com uns calções e uma t-shirt no dia anterior é cada vez mais uma operação de altíssimo risco.
Mesmo no verão.
Especialmente no verão.
Agora está calor, bem sei.
Mas há três dias chovia e estava frio.
Nada contra, até um tanto ou quanto a favor.
Mas de facto, andamos a estragar qualquer coisa lá em cima.
E não me parece que seja coisa fácil de remendar.