terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pato bravismo.

Já tivémos um país bonito.
As casas de antigamente era bem feitas, com pormenores de classe, bons materiais, e acima de tudo eram bonitas.
Tinham charme.
Mas isso era antigamente.
Hoje em dia, graças a uma raça que dá pelo nome de "pato-bravo", isso já foi exterminado, para gáudio de quase toda a população.
Demos cabo de tudo.
Tudo.
Da ponta de portugal até aos seus calcanhares, nós fomos arquitectando monstros de cimento.
As construções não seguem uma linha lógica de arquitectura, os prédios passaram a ser só caixotes, e as moradias novas passaram a ser "móradias", cor de rosa, ou amarelo, todas iguais, e com interiores à base do dourado e da mármore, que são materias considerados "finos".
Neste fim-de-semana fui ver várias casas, e o "luxo" dos dias de hoje deixou de ser o "luxo" dos dias de sempre.
O pato-bravismo, anda de braço dado com o novo riquismo.
E o novo riquismo, anda de braço dado com o mau gosto.
O meu pai sempre me disse, e cada vez o entendo mais: "o dinheiro não compra o bom gosto".
E de facto não compra.

Dois destaques para as casas que fui ver então neste fim de semana.
A primeira era uma em Cascais, que aparentava ser uma casa com traça antiga, com um belo terreno, e que mal se entrava pela porta nos parava qualquer coisa cá dentro.
O homem, um pato bravo na casa dos sessenta, tinha partido tudo por dentro e tinha reconstruído com o seu "gosto pessoal".
À base de quê?
Mármore, dourados e puxadores de portas em forma de diamante.
O jardim todo em tijoleira (sim, ele cobriu a maior parte da relva) e um salão na cave todo na mesma tijoleira e com uma coluna em mármore no meio.
Não vou sequer falar do valor nem do orgulho com que o homem mostrava a casa para não envergonhar ninguém.
Depois fui ao Estoril.
Estoril esse que, lá está, já consegue ter prédios assustadores e grafittis ainda mais assustadores em pleno Monte Estoril, que sempre foi uma "zona nobre".
O "Cruzeiro", no centro do Monte Estoril é uma edificio de vidros partidos e graffitis, e é impossível olhar em redor sem ver uma mamarracho daqueles que provocam um misto de pena e "é bem feita".
A casa em questão era uma casa antiga, de uma familia também ela antiga, que lhe custava muito vender e que tinha conservado a traça antiga não só no exterior, como no interior.
Visitei a casa tendo a perfeita noção da raridade que estava a visitar e que tão cedo não veria nenhuma igual.
Uma casa com anos e anos de história, que conseguiu manter-se intacta, apenas com os devidos arranjos a que o tempo obrigou.
A senhora explicou-me que já a tinha quase vendido, que esteve quase a asssinar os papéis, até o comprador lhe dizer:
"Epá, isto vai ficar lindo. É arrancar este chão todo (que era madeira, casquinha) e pôr aqui uma bela mármore."
Resultado: não a vendeu.
Bem sei que o bom gosto é, e sempre será uma coisa relativa.
É bom que assim seja.
Por isso apenas posso falar de acordo com aquele que tenho: Portugal está a ficar mais feio de dia para dia.
As zonas verdes são assaltadas por casas construídas às muitas pancadas.
A autoestrada de cascais vai passar a terminar no Guincho.
No Guincho!
Uma zona verde e de praia que nunca teve problemas de trânsito, nem nunca terá, mas ainda assim, alguém achou que a autoestrada valia a pena.
No nosso país tudo se compra.
E nós que sim, como se nada fosse.
Um dia vamos olhar para trás e perceber que Portugal já foi dos países mais bonitos do mundo, até nos cansarmos de estar bem.
Lord Byron disse um dia: "Portugal não merece Sintra".
Não vou tão longe, mas vou para perto.