sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Espécie de direito de resposta

É raro agendar entrevistas.
Se estiver numa estréia ou noutro lugar qualquer (à partida) não fujo.
Falo antes daquelas entrevistas extensas, com mais "peso", que volta e meia se fazem.
E evito por um simples motivo: a maior parte dos jornalistas faz entrevistas sobre a vida profissional com o fito de preparar terreno e distrair, para no fim da entrevista desatar a escarafunchar a vida pessoal do entrevistado.
Vem nos livros.
Ora, se fosse um coisa meiga e inteligente sobre a vida pessoal, o entrevistado ainda se deixaria levar alegremente.
O problema é que as perguntas, regra geral, são demasiado parvas.
Logo, fica só um momento de pura cusquice.
"Vou estrear uma peça" venderá à partida menos exemplares do que "Eu e a Maria vamos ter gémeos. Ela já está cheia de desejos e passa o dia a pedir-me para lhe comprar rabanadas e paio de porco preto. Estamos numa fase muita gira."
Há ainda outra coisa digna de nota.
Quando acontece estar a dar uma entrevista, mesmo que esteja a ser acompanhada por um gravador do jornalista, há qualquer coisa que me diz que as palavras que estão a sair da minha boca não são necessariamente as que aparecerão escritas na revista/jornal.
É um fenómeno raro que só acontece em alguma imprensa.
E em comadres.
Foi o caso da edição de hoje da revista "Notícias Tv" do Diário de Notícias.
Uma conversa com uma jornalista que aceitei por me parecer que a "Notícias Tv" teria a chancela de qualidade do Diário de Notícias.
E acima de tudo que seria menos sensasionalista que a imprensa dita cor-de-nada.
Será?
A meio da entrevista surge a pergunta: "Aceitaria juntar-se ao elenco dos "Gato" caso o convidassem?"
A minha resposta, quando fui entrevistado há uma semana, foi: "É tudo relativo, depende do projecto em causa. Se fosse uma coisa entusiasmante para mim e para eles, claro que sim. Mas neste momento não penso sequer nessa hipótese."
Frase que aparece na capa: "Aceitaria juntar-me aos Gato Fedorento".
É um preciosismo.
Muda-se um bocado a ordem das palavras, e de repente, do nada, parece que me estou a oferecer para que os "Gato Fedorento" me convidem para trabalhar com eles, parecendo também que me esqueci que tenho um programa precisamente noutro canal.
Depois abro a revista e a frase em letras grandes que dá início à entrevista é:
"Não sei quem é mais parvo, se eu ou a Maria!".
A pergunta que deu origem a este bonito título era:
"Quem é o mais brincalhão lá em casa"?
E agora muita atenção: a entrevista tem 15 perguntas.
Uma delas é sobre a vida pessoal. ( e só foi uma porque eu disse que não valia a pena perguntarem mais nenhuma)
E qual delas é que dá origem ao título?
Será uma das 14 sobre a profissão..?
Não.
A única sobre a vida pessoal.
Eu bem disse:
Vem em todos os livros.