domingo, 1 de março de 2009

Bingo!


Ontem, ao contrário de todas as previsões, fui ao Bingo.
Sim, ao Bingo.
Já não ia há anos, anos esses em que saía da Buraca para ir descobrir o mundo dos adultos.
Ou da ideia que tinha deles.
A primeira vez que entrei numa sala de jogo foi com o Nuno, que era o meu vizinho do quinto B e o Carlos, do prédio da frente.
Nessa altura fomos ao Bingo do Estrela da Amadora.
Só nós e a adrenalina de estar ali a brincar aos adultos, a 100 escudos o cartão.
Nunca me calhou nada, e nunca tive grande fascínio por salas de jogo.
Cheguei mesmo a gritar "linha!" depois de já só se estar a jogar para Bingo.
E as caras todas viradas para mim a dispararem setas na inocência da minha idade.
Anos depois soube bem voltar, porque não foi combinado.
O improviso aviva o peito.
E continua a ser um universo extraordinário.
Desde uma senhora que estava na nossa mesa e vinha de Vila Franca de Xira até Lisboa só para "torrar" dinheiro, até um senhor já com um grau simpático de álcool no sangue, que estava desempregado, e a jogar o pouco que tinha na carteira às escondidas dos gritos da mulher.
E a eterna voz colocada da senhora que canta os números que vão saíndo, com um misto de aborrecimento e frustração de nunca ter tido um programa de rádio.
É tudo isso, e muito mais.
E não, não ganhei absolutamente nada.
Mas há coisas que não foram feitas só para ganhar.

Ontem voltei a ter dezanove anos, e soube-me a pouco.