Há notícias que não foram feitas para serem dadas.
Esta é uma delas: o António, depois de um ano e meio de braço-de-ferro com a doença, perdeu.
Lutou como melhor sabia e podia: com a extraordinária arma do humor.
Usou-a sempre, mesmo quando sabia que estava em desvantagem com uma puta de uma doença que vem esmagar pessoas à sorte.
Não faz sentido que ele aos cinquenta e cinco anos tenha ido embora quando ainda tinha tanto para fazer e dizer.
Mas foi. E não foi.
Um grande pai, um grande amigo, um grande encenador, um grande actor e um ser humano daqueles que se agigantam quando vemos por dentro.
Sabia ver o copo meio cheio, sempre. Mesmo quando ele estava vazio.
Rimos muito, trabalhámos juntos, e tudo aquilo que ainda tinhamos que fazer e que não é justo que tenha este fim.
Guardo muitos momentos bons, e histórias que nunca mais esquecerei.
Uma delas foi o dia em que me disse que estava doente, e que passado cinco minutos estava a rir e a gozar com isso.
Passados uns meses foi o primeiro a alinhar num sketch dos "Contemporâneos" que eu tinha idealizado depois de ter visto o Nuno Lopes oferecer-lhe o Globo de Ouro.
Ele não só alinhou na hora, como improvisou todo o texto com uma capacidade de dar a volta à gravidade da doença impressionante.
Estive com ele há duas semanas, e apesar de tudo e todos o sentido de humor estava lá, sem tirar um único centímetro.
E assim foi, até ontem à noite.
Pode ter perdido a guerra, mas ganhou as batalhas todas.
Até já, António.
O meu irmão Nikita não voltará a Kharkiv.
Há 4 semanas