terça-feira, 27 de junho de 2006

Mais um copy-paste

"Sossegar não é descansar- não é uma consequência do cansaço. Quando Rebelo da Silva, citado por Moraes, que por sua vez cita o dicionário de Freire, diz:
"O coração não sossega, a vida cansa",
ambas as coisas são verdadeiras, mas a associação é enganadora, porque o coração não sossega por causa de a vida cansar.
Há cansaços bons. Não. O coração não sossega, porque não tem com que sossegar.
Quando aparece um amigo sem avisar, interrompendo tudo o que se tencionava fazer, sossega-se. Quando se está a lutar contra a injustiça e a maldade, com todas as forças que se tem, sossega-se. Quando se lê um poema ou uma história bonita, por muito triste que seja, sossega-se. Quando se acredita em Deus. Isso, sim, é sossegar.
Gosto de "sossegar" como verbo transitivo. Sossegar só por si não chega. É mais bonito sossegar alguém. Quando se pede "Sossega o meu coração", e se consegue sossegar. Quando se sai, quando se faz um esforço para sossegar alguém. E não é adormecendo ou tranquilizando, em jeito de médico a dar um sedativo, que se sossega uma pessoa. É enchendo-lhe a alma de amor, confiança, alegria, esperança e tudo o mais que é presente a tornar-se, de repente, futuro. É o futuro que sossega. "Amanhã vamos passear", sossega mais que "Não te preocupes" ou "Deixa lá, que eu trato disso"."


Miguel Esteves Cardoso, e eu.