segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Quente, mas frio

Começa, então, o frio. Parece-me bem. Verdade seja dita que depois de hoje me ver, a mim próprio, a dar 400 euros ao Sr. Carlos de Olhão na Àrvore das Patacas, já tudo me parece bem. É verdade, eu girei toda uma Àrvore das Patacas, sem medo, com muita confiança, que só assim se gira uma àrvore daquelas.
O frio aconchega o corpo. Faz-nos mais aconchegados a quem queremos aconchegar. Faz-nos querer aconchegar a pessoa paredes meias com o nosso coração,até estalar os ossos, e ainda assim insistir. Ontem comi castanhas no Chiado. Quentes, e de facto boas. Começa toda a gente a fumegar pela boca, a guardar os pescoços em lã e mais lã, até ficar só uma cara de frente para o mundo. Lareiras, um pouco por todo o país, começam a pedir madeira e mais madeira, tal é a fome de aquecer. As canecas enchem-se de muitos chás, dispostos a quase tudo para queimarem uma língua, que tão bem deve ser usada. Essa mesma língua, pede ao chá que este a queime. Que só assim se inicia o inverno no corpo.
Seis da tarde e já a noite se senta à mesa connosco. Anoitece cedo demais para quem gosta de luz. Anoitece cedo demais mesmo para quem a detesta. Anteontem comprei lenha, ontem comprei castanhas, e hoje, espero ansiosamente que a água ferva. A minha língua pernoita irrequieta.
Queimo-a?

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Ressaca

Está estreado. A casa estava cheia, mais do que como um ovo, bem mais. Estava nervoso, muito, confesso. Raramente o estou, mas sexta feira estava. Quando falta uma hora para começar, pensei que não era nada daquilo que eu queria. Queria a minha mãe, o meu sofá, estar debaixo da roupa da cama, tudo, tudo, menos ser actor. Os nervos da espera para entrar rouba anos de vida, e connosco a assistir a tudo. Mesmo. Sentimos o sistema nervoso a picar o ponto e o estômago a cimentar. Tudo. Pensamos que até partir um pé naquele momento era mais reconfortante do que despir, peça a peça, a alma, para 200 pessoas.
Ao atravessar as cada uma das pessoas no Jardim de Inverno, para chegar ao palco e dar inicío à peça, apercebi-me que não há privilégio maior do que ter olhos e peitos dispostos a pagarem para te ouvir. Não há. Um palco é de uma força impressionante. As luzes num palco mudam, a maneira como vêmos as coisas, muda. Mudamos também nós, torna-mo-nos ainda maiores. O palco põe uma gigante lupa sobre tudo o que nos dói ou sorri.
Hoje ainda ressaco, tal é o arrombo dessa lupa. E ouço Camané. Não há nada como a nossa casa. Nada.

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Hoje, 23h30

É hoje. É nestas alturas que qualquer actor pensa "porquê?... com tanta profissão jeitosa..."
Não é medo. Não são nervos. É tudo. Um cocktail atestado de tudo o que contrai músculos e que assim os deixa. Pais, amigos, imprensa, pessoas que respeitamos, enfim, todos, de tudo um pouco, hoje, para verem "o que ele tanto andou a fazer no último mês e meio".
Acabo de tomar banho, ouço Maria João e Mário Laginha que de alguma maneira me tentam acalmar, mas em vão. Todo um texto da peça que fazia sentido na minha cabeça, hoje aparece com parágrafos trocados. Congestionado e com febre, que ajuda sempre um bocadinho, olho uma última vez para o texto. Tenho de ir, ainda há uma estrada para fazer e um carro para estacionar. Hoje às 23h30, estreia-se mais um medo. Hoje, às 23h30, cresci como actor.

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

"Antes Eles Que Nós"



Estréia então dia 21 de Outubro. Apareçam.

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Cartaz das Artes

Amanhã, Clã no Santiago Alquimista, e eu amarrado ao Teatro Municipal São Luiz.
Vão todos, que concertos destes não se perdem de ânimo leve. Vão e gritem-me o que acharam.
Novo cd de Clã ao Vivo... chora-se quando se sofre de tanto sofrer, ou quando nos sentimos tão bem que recorremos às lágrimas para nos ajudarem a estancar o sorriso parvo. Este cd equilibra-nos entre os dois. Agradeço-vos.
Também o meu bom amigo Pedro Ribeiro, que eu tanto respeito e admiro, estreou as suas "Conversas Ribeirinhas" na Sic Radical, de 3ª a 6ª, às 20h. Porque cada vez são menos os programas que nos merecem à frente da televisão, não deixem passar este.
Despeço-me assim de mais um Cartaz das Artes, até p´ra semana.

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

É melhor ir dormir...

Regressei ontem do Porto. Lá, cruzei-me com o Manuel Luis Goucha.
Tive medo.
Falta então, uma semana e meia para a estréia da peça. A dor de estômago não me deixa mentir.
Tudo corre bem, menos o tempo. Esse corre bem demais. Um grande bem haja à Anabela Baldaque, que nos vai vestir, e investir, nesta peça. O cansaço começa a levar a melhor, ainda que devagar. Sei-vos dizer que nestes últimos dias dormi uma módica quantia de 7 horas. A certa altura cheguei a ver elefantes a dançarem em cima de lâmpadas de halogénio. Ou se calhar era só o sono. De qualquer das maneiras, tinham uma coreografia espectacular, as lâmpadas.
Durmo enquanto vos escrevo. Olho para a televisão e vejo o Cláudio Ramos a falar da roupa que não sei quem levava ao aniversário da Sic. Espero que seja ainda do sono.
Há de facto pessoas que mais valia Nosso Senhor levar. Outras que mais valia Nosso Senhor mostrar a porta do Trumps.
Esforço-me para dormir, mas é pior. Quanto mais se quer dormir, menos vontade nos dá.
Sou um fã da Tertúlia Côr-de-Rosa. Acho que pode dar idéias à Al-Qaeda.
Sonho com o Cláudio Ramos e o Daniel Nascimento a dançarem Forró em cima de uma coluna. Acho que fazem uma dupla espectacular, têm imensa presença.
É melhor ir dormir.

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

É da família


Porque uma imagem vale mais do que mil sentimentos. Aqui fica, é sobrinho aqui do próprio que vos escreve, é lindo de morrer, e já anda.
Contra tudo e todos, mas anda.
1 ano, poucos dias, e um sorriso lindo depois, aqui está ele.
Ah leão!

sábado, 1 de outubro de 2005

Chama-se: Folga

Enfim, um dia de descanso. Os ensaios correm a passo apressado, com a estreia já a espreitar da janela 21 do mês de outubro. Aproveito para não fazer nada...e que bom que isso é. Regra quase geral, as pessoas ao fim de semana enchem-se de "tenho de lá ir" para segunda-feira dizerem a toda a gente o quanto "lá foram". Correm, gritam, esperneiam, passam cartões multibanco em lojas que as vão fazer chorar. Eu sento-me, e escrevo-"as".
Acompanho de longe as obras da minha casa, e penso que tanto cimento junto refazia, sem problemas, a cara do Ferro Rodrigues. Seria um orçamento diferente, isso sim.
Nunca imaginei que houvesse tanta variedade de sanita. Nem de torneiras. Nem de bidés. Palavra. Há lojas só de bidés e sanitas. Isso, só por si, é bonito. Hoje olho para uma sanita com muito mais respeito. Sei que ela teve de lutar para estar ali, eram muitas a querer o lugar. A minha sanita é feliz. Ontem trouxe-a como quem carrega um filho nos braços.
Ouço o empreiteiro cansar-me os ouvidos. Faço-lhe "mute", e vejo como está a fino que se está a tornar a casa. Tiro-o do "mute" e digo: Esta bancada queria-a com 1 metro e 10. "Então mas você não acha... (mute)"
Desconfiam muito de gostos diferentes. Tive de o convencer de tudo o que queria remodelar, para ele não amuar, e não pedir um tempo à nossa relação.
Cumprimento o colega dele, moldavo até ao passaporte. Ele fica a olhar para mim, não mexe.
Estico-lhe a mão. Ele não. Recolho a mão. Ele não.
No fim deste mês já lá devo morar, assim queira o Sr. Moldavo, o maneta.
Posto isto, carrego no ponto final, e estico-me, para apanhar mais aquele bocado de sol.