quarta-feira, 25 de julho de 2007

"Grey Gardens"

A coisa mais comovente que vi nos últimos tempos aconteceu do nada.
Foi-me mostrada pelo Herman, e jamais imaginei que fosse mexer tanto comigo.
O título é "Grey Gardens".
Um documentário sobre Edith Beale, aristocrata e tia de Jacqueline Kennedy Onassis e a sua filha (também Edith Beale).
O documentário aborda a vida de mãe e filha que viviam em Grey Gardens, uma luxuosa e gigantesca mansão de vinte e oito quartos em East Hampton, Nova Iorque.
Com o passar dos anos, a então casa luxuosa tornara-se num decadente amontoar de lixo, cinquenta e dois gatos, e guaxinins que entravam pelo sótão e comiam várias peças da casa.
O jardim anteriormente pomposo começou aos poucos a "engolir" a outrora mansão.
O caso ficou conhecido com um artigo do National Enquirer que denunciou as condições desumanas da casa em que mãe e filha viviam.
Albert e David Maysles, que se encontravam na altura a realizar um documentário sobre a infância de Jacqueline Kennedy Onassis, decidiram virar o foco das atenções para esta casa, e para as duas mulheres fascinantes que lá viviam.
E é então que "Grey Gardens" se torna num documentário de 1976, e que acompanha o dia a dia de mãe e filha, uma relação de dependência e excentricidade que ninguém até então tinha partilhado.
É comovente como Edith Beales (a mãe), apesar de todo o caos que se passa à sua volta (muito diferente da vida luxuosa que levava anteriormente), nem uma vez reage com tristeza.
É feliz, ainda que sem nada.
Já teve tudo.
Poder-se-á chamar "divine decadence".
Ou apenas uma lição de vida.
E mais uma vez a prova de que a velhice é das coisas mais sábias e comoventes que podem existir.
Estamos todos a caminhar para lá.

Um misto de loucura, decadência e poesia.
E certamente das melhores coisas que vi até hoje.