Começa, então, o frio. Parece-me bem. Verdade seja dita que depois de hoje me ver, a mim próprio, a dar 400 euros ao Sr. Carlos de Olhão na Àrvore das Patacas, já tudo me parece bem. É verdade, eu girei toda uma Àrvore das Patacas, sem medo, com muita confiança, que só assim se gira uma àrvore daquelas.
O frio aconchega o corpo. Faz-nos mais aconchegados a quem queremos aconchegar. Faz-nos querer aconchegar a pessoa paredes meias com o nosso coração,até estalar os ossos, e ainda assim insistir. Ontem comi castanhas no Chiado. Quentes, e de facto boas. Começa toda a gente a fumegar pela boca, a guardar os pescoços em lã e mais lã, até ficar só uma cara de frente para o mundo. Lareiras, um pouco por todo o país, começam a pedir madeira e mais madeira, tal é a fome de aquecer. As canecas enchem-se de muitos chás, dispostos a quase tudo para queimarem uma língua, que tão bem deve ser usada. Essa mesma língua, pede ao chá que este a queime. Que só assim se inicia o inverno no corpo.
Seis da tarde e já a noite se senta à mesa connosco. Anoitece cedo demais para quem gosta de luz. Anoitece cedo demais mesmo para quem a detesta. Anteontem comprei lenha, ontem comprei castanhas, e hoje, espero ansiosamente que a água ferva. A minha língua pernoita irrequieta.
Queimo-a?
O meu irmão Nikita não voltará a Kharkiv.
Há 4 semanas